A invisilidade do protagonismo do negro na história do protestantismo no Brasil deve ser objeto de estudos aprofundados, visto ser esse grupo étnico conhecido pelo seu trânsito em diversos espaços religiosos, o que não foi diferente entre os batistas. Ressaltamos aqui a importância do trazer à memória da identidade negra, dado que quando se conta a história do protestantismo no Brasil, só existe a versão contada a partir de uma história única, onde a figura principal será a do missionário branco e estrangeiro. A Igreja Batista do Garcia é o marco do início de uma teologia negra, que talvez os fundadores não tivessem denominado essa prática, uma vez que esse termo só surge décadas depois nos Estados Unidos, com o teólogo afro-estadunidense James Cone (1).
A fundação da Igreja Batista do Garcia dá-se em um contexto em que a população negra recém-liberta estava buscando seu espaço na sociedade, criando meios de afirmar sua identidade e autonomia. Analisaremos aqui o contexto socioeconômico em que os negros estavam inseridos na cidade de Salvador no início do século XX.
Aldry A. S. Castellucci (2010, p. 89) (2) descreve em seu artigo Classe e cor no Centro Operário da Bahia (1890-1930), o período em questão:
Nosso propósito é demonstrar, a partir da reconstituição do perfil social dos indivíduos que compuseram o Centro Operário da Bahia, que, diferentemente do que ocorreu em São Paulo, em Salvador, para onde não houve imigração (3) em massa, os ex-escravos e seus descendentes continuaram a ocupar posição no mercado de trabalho formal. [...] a classe operária era fundamentalmente negra e mestiça, inclusive os artesãos autônomos, sua fração mais qualificada e economicamente bem situada na hierarquia da capital baiana.
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