O Projeto Cidadã de Fé surge no âmbito das ações organizativas da Rede de Mulheres Negras Evangélicas(RMNE) do Brasil, criada em agosto de 2018. O objetivo principal da ação buscou aproximação com mulheres evangélicas, preferencialmente pretas e pardas, oriundas de periferias e subúrbios da cidade de Recife e Região Metropolitana; algo que foi alterado devido aos impactos do isolamento social, trazendo portanto, dados de mulheres de outros estados.
A partir da ausência de bibliografias e pesquisas robustas sob este recorte (com subsídios quantitativos e qualitativos) que abordem dimensões culturais acerca da participação política das mulheres evangélicas, encontramos na pesquisa-ação a metodologia adequada para essa intervenção. O projeto foi premiado no Edital aberto pelo gabinete legislativo da Co-deputadas Juntas e foi um dos 20 premiados no Estado de Pernambuco para execução em 2020.
Entretanto, o advento da pandemia do COVID-19 obrigou-nos à adaptação do projeto para o contexto de isolamento social, com supressão da dimensão de trabalho de campo junto aos grupos de mulheres de base comunitária para o contexto de pesquisa em redes sociais. Uma mudança com perdas e ganhos para o campo da sistematização de conhecimento da realidade. Desse modo, as ações do projeto foram realizadas de janeiro a setembro de 2020 e contou com a participação exclusiva de mulheres negras e evangélicas em todas as dimensões de sua elaboração. Os percalços de um projeto executado em meio à crise sanitária de escala mundial inédita na história recente, agregaram tensões e compreensões a respeito das aproximações conceituais de mulheres evangélicas acerca da cidadania.
O relatório revela o quão importante é uma cultura política genuinamente participativa na trajetória das mulheres negras nordestinas que conduza um processo de amadurecimento pessoal e coletivo para a luta e engajamento social. Também buscamos tencionar o conceito ocidental de cidadania e o que de fato ele representa no contexto brasileiro e para as mulheres que estão inseridas em contextos de fé marcados profundamente pelo fundamentalismo, conservadorismo, patriarcado e racismo. Desta forma, este relatório traz
consigo uma perspectiva de mulheres subalternizadas pela pobreza e pelo racismo, bem como visibiliza sujeitas com trajetórias pouco reconhecidas: mulheres, em sua maioria, negras e evangélicas a partir de suas próprias narrativas.
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